samedi 10 octobre 2009




E um poeta disse: Fale-nos da beleza.
E ele respondeu:
Onde procurareis a beleza
e como a podereis encontrar a menos
que ela mesma seja vosso caminho e vosso guia?
E como podereis falar a menos
que ela mesma teça vossas palavras?

Os aflitos e os feridos dizem:
A beleza é amável e suave.
Como uma jovem mãe,
meio encabulada na sua glória, ela caminha entre nós.

Os apaixonados dizem:
Não, a beleza é uma força
poderosa e temível. Como uma tempestade
ela sacode a terra abaixo de nós
e o céu acima de nós.

Os cansados e os gastos dizem:
A beleza é um múrmurio suave.
Fala em nosso espírito.
Sua voz cede aos nossos silencios
como uma luz tênue que treme por medo da sombra.

Mas os turbulentos dizem:
Nós a ouvimos gritar entre as montanhas,
e com seus gritos chegavam o tropel de cavalos,
o bater de asas e o rugir de leões.

À noite os guardas da cidade dizem:
A beleza despontará do Oriente com a alvorada.

E, ao meio-dia, os trabalhadores e transeuntes dizem:
Nós a temos visto inclinada sobre a terra,
das janelas do poente.

No inverno, os prisioneiros da neve dizem:
Ela virá com a primavera, pulando sobre as colinas.

E no calor do verão, os ceifeiros dizem:
Nós a vimos dançar com as folhas do outono,
e havia neve no seu cabelo.

Todas essas coisas dissestes da beleza.
Na verdade não falastes dela,
mas de desejos insatisfeitos.
E a beleza não é um desejo, mas um êxtase.
Não é uma boca sequiosa,
nem uma mão vazia que se estende,
mas antes, um coração inflamado e uma alma encantada.
Ela não é a imagem que desejais ver,
nem a canção que desejais ouvir,
mas, antes, a imagem que contemplais
com os olhos velados e a canção que ouvis
com os ouvidos tapados.
Não é a seiva por baixo da cortiça enrugada,
nem uma asa atada a uma garra,
mas, sim, um pomar sempre em flor,
e uma multidão de anjos em vôo.
Povo de Orphalese, a beleza é a vida
quando a vida desvela seu rosto sagrado.
Mas vós sois a vida, e vós sois o véu.
A beleza é a eternidade olhando
para si mesma num espelho.
Mas vós sois a eternidade,
e vós sois o espelho.

Khalil Gibran

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